RESGATAR, INCLUIR E SALVAR
“A inclusão, transformação e cura por meio da arte era a base para o tratamento de doenças mentais.” (Nise da Silveira)
Quando meu amigo Diego Segala, psicólogo, me contou a respeito do uso da “Arte Expressiva” como recurso psicoterapêutico, trazendo exemplos reais de prática em seu consultório, foi inevitável revisitar meu passado e minha história com a arte.
Quem me conhece sabe da minha paixão e respeito por todas as manifestações artísticas, especialmente pelas artes plásticas. São inúmeros os motivos para afirmar que a arte me transformou e, de um certo modo, me salvou. Eu me agarrei a ela em um momento de fragilidade emocional, durante a transição entre uma adolescência ingênua repleta de sonhos e uma vida adulta desafiadora.
Meu primeiro contato com a pintura foi na escola e, após a interrupção dos estudos, retomei a prática pra valer, pintando cartolinas e camisetas. Aquela despretensiosa atividade era apenas um hobby que me proporcionava prazer e atendia a uma necessidade de expressão muito particular, inclusive de sentimentos represados. Diante de tantos perrengues vividos na época (conflitos familiares, problemas financeiros e de saúde etc), os pincéis e as tintas foram as únicas ferramentas que eu tinha à disposição para relaxar. Eu me entreguei de corpo e alma àquela experiência, utilizando-a involuntariamente como verdadeiras sessões de terapia.
Entre tantas conquistas e realizações obtidas a partir das minhas pinceladas, incluindo o sustento da família, as mais significativas se concentravam nas relações de amizade construídas na época.
Bem… voltando ao início do texto…
Diego reside em Amparo/SP e atua como psicólogo também na rede de atenção básica à saúde, ou seja, nos “postinhos” da cidade, como são conhecidos. Segundo ele, a procura por profissionais em saúde mental tem sido cada vez mais alta, principalmente depois da pandemia do Coronavírus.
Sabendo da minha relação com a arte, ele me contou sobre uma determinada história de vida que está acompanhando atualmente, mantendo os devidos sigilos, claro. Como parte do processo psicoterapêutico, mãe e filha começaram a pintar com lápis de cor, primeiro durante as sessões de terapia e depois em casa, incorporando o exercício em suas rotinas. Diego diz que é muito perceptível as mudanças positivas que as duas estão obtendo.
As cores escolhidas, os movimentos das mãos e o jeito de pintar carregam significados que só o psicoterapeuta sabe interpretar. Entretanto, o que eu quero evidenciar por meio desta publicação é a força que a arte possui para resgatar, incluir e SALVAR, no sentido mais literal possível das expressões. Eu falo por mim!
Diego, como profissional em saúde mental, corrobora a minha afirmação, dizendo que “o uso do desenho e da pintura vem demonstrando extrema eficácia e resolutividade para casos de ansiedade e quadros depressivos. São inúmeros os benefícios trazidos através deste recurso, que serve não só como meio de expressão, mas também como pavimento de um caminho para o autoconhecimento, além de uma enorme contribuição para a autoestima, o relaxamento, a redução do estresse e a sensação de bem-estar, entre tantos outros reflexos positivos.”
A arte é uma forma de comunicação que transcende barreiras linguísticas e culturais. Ela possibilita expressar sentimentos, emoções, pensamentos, ideias e opiniões, individuais ou coletivas, facilitando o processo de “cura”. Nesse contexto, não se deve levar em conta o valor comercial, a qualidade do produto criado e muito menos a técnica e o estilo adotados. E não importa onde o desenho e a pintura são aplicados, se em papeis, telas, tecidos, porcelanas, madeiras, camisetas, guardanapos ou em qualquer outro material.
A arte propicia uma fuga da realidade, pois é possível mergulhar em mundos imaginários, sem dor e crueldade. E a história contada hoje é mais uma prova do quanto a arte pode transformar pessoas que se entregam a ela.
Mas, o que é arte? A pintura, a música, a literatura, a escultura, o teatro, a dança?
Para mim, a arte nunca teve a obrigação de agradar meus olhos e ouvidos. Ela não precisa concordar com meus preceitos e nem vir ao encontro do que eu considero belo. A arte tem que mexer de alguma forma com o meu íntimo. Se despertou algo em mim e me provocou qualquer tipo de reação ou sensação, então é arte.
